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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Pornografia fiscal ao mais alto escalão político, estamos sendo "violados"...

Nesta altura do campeonato, é mais ou menos evidente que a distância entre o discurso e as intenções políticas do Dr. Passos Coelho antes das eleições, e as decisões políticas do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, parece agigantar-se. Mas no meio das conjecturas e prelecções que por aí abundam, e que vão transfigurando a figura do Dr. Passos Coelho a meio caminho entre a do usurpador de Massamá e a do tirano de São Bento, afigura-se a prazenteira ideia de que bastava uma mudança de governo, acompanhada do cumprimento tangencial de três ou quatro pontos avulsos do Memorando de Entendimento (MDE, para não repetir o acrónimo do Lourenço), para que todos pudéssemos voltar à mesma vidinha de sempre. É sempre bom não perder de vista o primeiro e o mais rudimentar dos factos: o país não mudou. O atavismo da crise está por aí, vivinho da Silva. De seguida, acrescentemos outro: as «patifarias» do Sr. Eng. José Sócrates, que anda por estes dias a visitar amigos por essa brilhante Europa, deixarão marcas por muitos e bons anos. Terminemos com estoutro: existe um Memorando para cumprir e alguns dos pressupostos que lhe serviram de base – por exemplo, a estimativa da colecta de receita associada à taxa de crescimento do PIB; por exemplo, o défice orçamental real vs. o propalado aquando da assinatura do acordo – obrigam à implementação de medidas que assegurem uma margem de segurança. Depois, há aquelas coisas básicas e chatas, de carácter mais técnico: em matéria de eficácia e de impacto no curto prazo, uma subida de impostos bate aos pontos quaisquer tentativas de fazer descer a Despesa.

Sim, é verdade: estamos mais ou menos lixados. Coisa mais portuguesa não há



Da esquerda à direita, do Altíssimo ao reino de Hades, toda a minha gente grita, sussurra, sonha, acalenta e bebe a solução: «cortar a despesa». Socialistas, trotskistas, comunistas, sociais-democratas, democratas-cristãos, indecisos, mata-mosquitos, vira-casacas e cata-ventos, todos, em uníssono, apontam o caminho: «corte-se na Despesa!» (subentende-se na despesa do Estado). É este o caldo «liberal» onde, hoje em dia, se comprazem os espíritos mesquinhamente práticos dos políticos e intelectuais da paróquia lusa. Fizeram, ao que parece, as contas.Agora, perante o cenário de mais impostos, a solução nunca foi tão unânime: «corte-se na Despesa».
Longe de mim perturbar uma ideia que adquiriu a solenidade severa e salvífica de um dogma. Cortar na despesa? Ó meus amigos: vamos a isso!
Quero, apenas, colocar o pouco dinheiro que me resta numa aposta simples (dispenso a múltipla): no dia em que se anunciar um rol mais ou menos sistematizado e, digamos, transversal, de medidas de «corte na Despesa», a unanimidade mudará de sinal. Nesse dia, eis o que iremos escutar dos mesmíssimos espíritos iluminados:
- Cortar assim, sem critério? Que horror!
- As pessoas não podem ser observadas como números. Que insensibilidade!
- Estas medidas vão conduzir a mais desemprego e recessão!
- O encerramento destes serviços representa um duro golpe no Estado Social!
- A falta de sensibilidade social deste governo é atroz!
- Estas empresas municipais geram emprego e desempenham uma função vital, sem a qual o Estado, por via das autarquias, se demitirá do seu papel social!

Estamos lixados com estes corruptos, agora até temos um "gay" a governar-nos, desculpem esqueci-me que não é assumido, estamos tramados...

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